Johnny Depp. Rebelde e marido exemplar
Na sala, à luz da janela aberta para o céu azul de Hollywood, Johnny tem um estilo irresistível
de gótico-rock. O velho panamá distorcido (um “Fedora Vintage”), pequenos óculos redondos
de cor cinza à la Beckett, camiseta também cinza, botas de ‘cowboy’ empoeiradas, correntes,
e uma cruz no peito sem pelos. Nos braços, as tatuagens constituem uma maquiagem
estudada. Ele acabou de adicionar um quadrado de listras escuras, supostamente para
representar o ‘I Ching’ (princípios do pensamento chinês baseados em sistemas de oposição).
Bem produzido: Johnny é tudo e seu oposto, solar-lunar, masculino-feminino, jovem e senhor…
Apesar de seu rosto aveludado, seus traços delicados, sua maçã do rosto saliente (herdados
de sua origem Cherokee), seus cabelos longos, sem nehum fio branco (e ele tem 48 anos!),
ele exala uma masculinidade selvagem. Nos olhos deste homem, há um misto de devaneio e
acuidade. Johnny inspira um velho cigarro de tabaco, enrolado por ele mesmo.
Paris Match: Quando você saía com Hunter Thompson (seu personagem em ‘The Rum
Diary’), você bebia muito como ele e também usava drogas?
JohnnyDepp: Eu já tinha parado com as drogas no momento em que o conheci. Mas,
todosnós bebíamos muito sim! As drogas poderiam ser experiências místicas? Iniciação?
Tentei alucinógenos na minha juventude porque eu li “Admirável Mundo Novo” de Aldous
Huxley [romance de ficção científica em que a felicidade está relacionada ao uso de drogas],
eu conhecia bem o Timothy Leary [o papa do LSD, morreu em 1996 na Califórnia], eu o vi
muitas vezes. Ele sabia como usar essas substâncias, falávamos sobre… dei umas voltas com
ele… Mas, francamente, meu cérebro não é muito receptivo à alucinações. Minha mente é
muito…estranha.
Paris Match: Você atua, você escreve, você pinta… Em que área você se expressa melhor?
Johnny Depp: Escrevendo em meu diário, sem dúvida. Mas eu também adquiri êxito na
frente das câmeras. Em certo momento, como ator, eu me liberto através dos olhos dos outros.
Paris Match: Apenas como ator?
Johnny Depp: Sim! Me sinto melhor na frente das câmeras do que por trás delas!
Geralmente, na minha vida social eu sou um desastre! Eu misturo coisas, eu me enrolo… Mas
eu amo estar na frente das câmeras, é onde eu posso me expressar.
Paris Match: Você é dez anos mais jovem do que sua idade… Você se encaixa
perfeitamente para interpretar um herói como Hunter Thompson.
Johnny Depp: Ah, mas eu acho que se você prestar bem a atenção, verá que Hunter era
muito bonito! Quando ele lançou “Medo e Delírio em Las Vegas” ele estava lindo. Mas em
seguida, ele foi perdendo o cabelo… E eu ainda não! [Ele tira o chapéu para me mostrar.
Nada a dizer. Ele poderia ser um modelo da L'Oréal].
Paris Match: Você se considera um jovem que, 25 anos depois, se tornou um pai de família respeitável?
Johnny Depp: Absolutamente! [risos] É inacreditável dizer que foram as crianças que me
mudaram. Mas foi exatamente isso.
Paris Match: Seus filhos querem copiar suas tatuagens, ou você os proíbe?
Johnny Depp: Honestamente, eu gostaria que eles não fizessem tatuagens… Minhas
tatuagens são um compromisso. Eu tinha 17 anos quando decidi fazer um diário no meu corpo.
Foi uma decisão importante. Mas isso pode se tornar constrangedor. Porém, felizmente eu não
me arrependo de nada.
Paris Match: Como você era, quando tinha 17 anos?
Johnny Depp: Exatamente como sou agora… No entanto, em 31 anos, eu passei por muitas
experiências.
Paris Match: Você era mais místico?
Johnny Depp: Sim, isso mesmo. E até aos trintas anos, eu ainda estava cheio de dúvidas.
Muitas coisas sobre o que eu queria ou quem eu era ainda não estavam claras. Hoje eu sei o
que realmente importa. Isso veio com a chegada da minha primeira filha.
Paris Match: O seu filho se parece com você.
Johnny Depp: Sim, ele se parece comigo. E minha filha é um retrato da mãe, além disso, tem
a mesma voz. Ela canta muito bem. Lily-Rose tem 12 anos e não vai querer ficar muito mais
tempo em sua pequena aldeia Plan-de-la-Tour, ela deve preferir Paris… Sim! Estou certo
disso… [suspiro]
Paris Match: Você afirma que, é capaz de ficar em sua propriedade em Provence, mesmo
sem fazer nada, durante meses. É difícil acreditar em você!
Johnny Depp: É verdade! Eu sou muito contemplativo. Eu posso passar dois ou três meses
pensando e vendo minhas flores crescer. Nos últimos meses, eu fiquei na minha casa, sem
sair, apenas estando com a minha família. E nunca fiquei entediado. Eu mantenho o cérebro
ocupado, cuido do meu jardim e dos meus tomates.
Paris Match: E você pinta… Nós vimos retratos de Vanessa e de Rimbaud bem realistas.
Você não pensa em fazer uma exposição?
Johnny Depp: Nnnnão… [Ele hesita]. Não neste momento. Quem gostaria de ver os meus
quadros?
Paris Match: Ninguém, é claro!
Johnny Depp: [Ele ri] Bem, não agora. Talvez um dia.
Paris Match: Como foi que você decidiu trazer suas malas para esta aldeia?
Johnny Depp: Foi meu sogro quem a descobriu, caminhando no Le Var, onde vive. Eu estava
procurando uma casa para ficar à longo prazo. Eu tinha visitado algumas com ele. Um dia ele
me chamou e disse: “Talvez eu tenha encontrado algo interessante, podemos ver neste fim de
semana.” Eu me juntei à ele, e ele estava certo, eu me apaixonei pela casa. Particulamente,
pela descoberta de sua magnífica adega abobadada.
Paris Match: Para guardar os seus futuros grands crus [tipo de vinho] “Chatêau Johnny Depp”,
como Coppola?
Johnny Depp: Sim. Produzir meu próprio vinho, faz parte dos meus planos.
Paris Match: Por que você tem tanta convicção ao afirmar que está “finalmente livre quando
chega na França”?
Johnny Depp: Porque, pela primeira vez, eu me senti como um anônimo. Eu poderia viver
simplesmente. E isso era impossível em Los Angeles, onde eu morava. Eu era constantemente
vigiado, observado, criticado. E confesso que sempre tive atração pela França.
Paris Match: Você diz que se inspira nos seus modelos, pessoas importantes de
personalidade forte que não existem mais…
Johnny Depp: Sim, mas continuam no meu coração. Meu avô foi essencial na minha vida, e,
eu ainda posso ouví-lo dirigindo seu carro, lá em cima. E Marlon [Brando], de quem eu era
muito próximo, ele fala comigo todos os dias. O mesmo com meu amigo Hunter Thompson…
A responsável pela entrevista o interrompe no meio da frase. É inútil tentar continuar,
nós ultrapassamos o limite de tempo. “Nos vemos em Paris” diz ele, tentando me dar
esperanças.
Por: Catherine Schwaab – Paris Match (revista francesa)
fonte : http://johnnydeppforever.com/
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